A Pandemia e Nós com isso?!

Caro Leitor, falar sobre finanças em um momento em que a prioridade é a saúde das pessoas parece contraditório, porém entendemos que esses temas estão bastante ligados.

A saúde financeira colabora em muito para a saúde física e emocional do indivíduo. Problemas financeiros estão entre as principais causas de depressão.

Em tempos em que o mundo enfrenta um dos maiores desafios do nosso século com impactos desastrosos em nosso sistema de saúde vemos as consequências desencadearem para a economia com empresas paralisando atividades, cortes de pessoal, salários e a renda das pessoas sendo diretamente afetada. Como diz uma certa mensagem que circula em redes sociais, estamos todos no mesmo oceano, mas não estamos no mesmo barco. Enquanto alguns estão em casas confortáveis, pensando no que vão fazer com tanto tempo livre, em qual filme vão assistir, ou qual “live” teve mais “views”, outros se acotovelam em agências bancárias tentando conseguir qualquer valor que possa garantir a alimentação de sua família, somos um País de grandes desigualdades, mas isso não é novidade pra ninguém.

O que talvez possa ser novidade é que, pela primeira vez, pessoas que se achavam seguras em seus empregos ou mesmo donos de empresas, perceberam que por um evento imprevisível que iniciou no outro lado do mundo, sua renda ou de sua empresa foi diretamente afetada.

Existe uma teoria que diz que as coisas que realmente nos causarão problemas, normalmente são coisas que nunca imaginamos ou prevemos, o fato é que em questão de alguns meses ou até dias, todos ficamos mais “pobres”.

Claro que, mesmo não podendo ter certeza de tudo que pode nos afetar, podemos tentar nos preparar, citando um ditado popular “espere o melhor, mas prepare-se para o pior …”, isso vale para muitas áreas de nossas vidas.

Como nosso foco aqui é Contabilidade e Finanças, o que pretendemos com esses textos é colaborar com a educação financeira das pessoas. Muitos desses conceitos podem ser aplicados a vida pessoal como também ao gerenciamento financeiro de negócios ou empresas.

Não pretendemos esgotar o assunto, não temos uma verdade absoluta, ou uma fórmula mágica, são apenas sugestões e opiniões com a intenção de divulgar conhecimento e experiências.

O hábito de “Reservar”

O brasileiro não tem o hábito de poupar, e em consequência disso, também não tem o hábito de investir.

Claro que, com toda essa situação, a renda média das pessoas e empresas tende a cair, mas mesmo em épocas de maiores ganhos, o que acontece é que muitos simplesmente não tem por hábito reservar uma parte dessa renda.

Quando digo reservar é justamente no sentido do dicionário, “deixar de reserva, destinar”.

Pessoalmente não gosto do termo “poupar” pois remete a um determinado tipo de aplicação, a “poupança” que não tem um rendimento muito atrativo, passando a ideia de que a pessoa está deixando de fazer algo, está perdendo “…ah gostaria de ter feito tal coisa mas precisei poupar esse mês..”, quando mudamos a frase para “..esse mês reservei dinheiro para investir..” fica clara a mudança de atitude.

Independente do termo usado, e importante adquirir o hábito de separar uma parte da renda, seja ela mensal, semanal ou diária, para investimento, para a época das vacas magras, para reserva de emergência, seja qual for o nome que você queira dar.

O importante e que quando essa época chegar, você, sua empresa, ou seu negócio, tenha alguma reserva para enfrentar esses períodos de redução de ganhos.

Sei que falar desse tema agora, parece como dizer a uma pessoa que ela precisa de seguro depois que bateu o carro, mas, como mencionamos, a intenção é despertar o hábito. Da mesma forma que não adianta contratar seguro para seu carro apenas uma vez, também não adianta reservar dinheiro apenas uma vez.

Essa pandemia vai passar, porém outras situações podem surgir de onde menos imaginamos, e precisamos estar minimamente preparados. Uma “pandemia” não é boa para ninguém, mas uma pandemia sem nenhum dinheiro pode ser muito pior.

Criando um novo hábito

Criar um hábito não é fácil, requer esforço, sair da zona de conforto. Começamos entusiasmados, depois de um tempo nosso cérebro, corpo, preguiça, tendem a se comportar como uma mola, voltando a posição inicial. E assim com a academia, com aprender um novo idioma, um instrumento musical, ou qualquer outra atividade.

Alguns psicólogos, livros de auto-ajuda ou coachings, (termo em moda atualmente) divergem sobre o tempo necessário para que uma atividade se torne um hábito, ou para perder um hábito ruim, se for o caso.

Vinte e um dias, três meses, um ano, não pretendemos entrar nesse mérito, até por que, em nosso entendimento esse período varia de pessoa para pessoa e de atividade para atividade.

Quando se fala em finanças e comum ouvirmos as mesmas desculpas, “…ah, mas eu ganho muito pouco”, “…minha empresa tem faturamento baixo”, porém na pratica a atitude de começar muitas vezes e mais importante que o valor inicial.

Pague a VOCÊ primeiro

Um erro comum, tanto para empresas como para pessoas, no momento de fazer uma reserva de valor e esperar “sobrar dinheiro“. Com esse tipo de pensamento dificilmente se terá sucesso, pois sempre surgirão gastos imprevistos, a quebra de um equipamento, no caso da empresa, um problema de saúde, no caso da pessoa, um presente para a sogra (talvez esse possa esperar), enfim, tudo conspira para o fracasso da empreitada.

Você já deve ter ouvido alguma pessoa dizendo “ah comprei determinada coisa pois assim tenho uma parcela a pagar e essa é a única forma que consigo guardar dinheiro, se não tiver uma parcela não consigo guardar nada..”

Estranho, guardar dinheiro comprando um bem de consumo que sofre desvalorização pode não ser a melhor forma. Claro que esse pensamento pode ser usado de forma inversa, comprando um item que gere valorização, um terreno, imóvel, itens de coleção, mas o que queremos mostrar é que isso reflete de maneira clara que se trata de um comportamento, um hábito.

Sim, gastar tudo que ganha e em muitos casos ainda ficar endividado também é um hábito e portanto passível de mudança.

Para ter maior chances de sucesso, o valor a ser reservado deve ser o primeiro a ser separado.

Não entenda mal, não estamos sugerindo que não pague suas contas e esconda o dinheiro, isso poderia lhe gerar sérios problemas, o que sugerimos é a mudança no comportamento.

Esperar sobrar dinheiro não ajuda em nada, pois depende de situações que não dominamos, ou seja vamos reagir a elas, seremos reativos.

Precisamos ser proativos pagando a nós em primeiro lugar e posteriormente as demais obrigações.

Um exemplo; de toda a receita que eu, ou minha empresa tiver no mês vou separar 5% e assim que receber e transferir para uma conta a parte.

Claro que o percentual determinado deve ser coerente, para que não se coloque uma meta que não possa ser seguida e seja gerada frustração.

O percentual não deve ser muito grande a ponto de comprometer a qualidade de vida, mas também não pode ser muito pequeno pois não atingirá o objetivo que é ter uma reserva de segurança.

– E onde posso aplicar esse dinheiro?

Bom, esse assunto será tema para uma próxima conversa…até mais.

Digital Contabilidade

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Deixamos abaixo como sugestão vídeo do Professor Leandro Karnal – O poder do Hábito.